Miguel Pavão fala à Dental Tribune Portugal

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“Enquanto bastonário, estou muito otimista em relação ao que aí vem”

Miguel Pavão fala à Dental Tribune Portugal (Imagem:Dental Tribune Portugal)

seg. 25 abril 2022

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Na segunda parte da entrevista à Dental Tribune Portugal, Miguel Pavão aborda as expectativas e os projetos da OMD no panorama nacional e internacional, a mensagem que deixa para os profissionais do setor, a sua candidatura à Ordem e a sua visão sobre a parceria entre Dental Tribune International e a DentalPro.

O que podemos esperar da OMD para os próximos tempos?

Enquanto bastonário, estou muito otimista em relação ao que aí vem. Há uma maioria absoluta na Assembleia de República e esta estabilidade política, espero, permitirá concretizar as promessas e as reformas na área da saúde oral que constavam do programa eleitoral do PS.

Não esqueço, por exemplo, que, durante o roteiro “Medicina Dentária no SNS” que fiz em outubro, a atual ministra da Saúde prometeu avançar com a carreira do médico dentista no SNS. Sabemos ainda que há fundos que permitem reforçar as políticas de saúde oral. Foi-me dito que, no Plano de Recuperação e Resiliência, entravam mais oito milhões de euros para a saúde oral, o que é manifestamente pouco. Nós tentámos também contribuir, durante este ano e meio, com algumas ideias concretas, nomeadamente com a proposta de destinar 30% do imposto sobre bebidas açucaradas à saúde oral. Temos ainda a pretensão de elaborar o Livro Branco para a Medicina Dentária em Portugal, cujo grupo de trabalho foi recentemente constituído e será dirigido pelo Dr. Fernando Guerra. Trata-se de uma ferramenta que permitirá traçar cenários e espelhar as nossas ambições para o futuro da profissão.

Estamos também a trabalhar outros dois dossiês muito importantes: a comissão pericial da OMD, que inclui a criação de uma bolsa de médicos dentistas com competências específicas na área da justiça forense (o regulamento da bolsa existe desde 2015, mas, até à data, não se tinha dado um único passo no sentido de fazer avançar este processo); e o enquadramento do estatuto de diretor clínico, para que este cargo, de grande responsabilidade, não seja ocupado por uma pessoa sem experiência ou maturidade... É um processo moroso, porque envolve várias ordens profissionais, mas gostaríamos de deixar esta marca na OMD.

Por fim, temos a intenção de criar uma delegação da OMD na região centro e a Casa do Médico Dentista (não sei se ainda será possível concretizar este projeto durante o presente mandato), à imagem do que acontece na Ordem dos Médicos, com condições para que os colegas se sintam em casa e vejam a OMD como a sua família. Mais do que pelo discurso, a união da classe alcança-se pelos atos concretos e pelas dinâmicas que formos capazes de criar.

A nível internacional, que atividades prevê a OMD?

A OMD está inserida em diversas plataformas internacionais, como a FDI – World Dental Federation, a FEDCAR - Federation of European Dental Competent Authorities and Regulators e o CED - Council of European Dentists. Ninguém está sozinho no mundo e temos que acompanhar as tendências de evolução junto destas organizações, principalmente no espaço europeu. Já conheci a nova presidente da FDI, a Dra. Ihsane Ben Yahya, em reunião online e, este ano, vamos ser os anfitriões do encontro do CED, o que é uma grande honra e um grande desafio.

Vamos acolher mais de 100 delegados internacionais no dia 20 de maio, na Alfândega do Porto. Ao mesmo tempo, no âmbito da FEDCAR, eu, a Dra. Maria João Ponces e o Dr. Gonçalo Assis estivemos em Paris e tomámos uma importante posição relativamente à formação, pois existe uma grande preocupação relativamente à diminuição da qualidade do ensino no Sul da Europa, bem como relativamente à exportação massiva de médicos dentistas, os quais acabam por deturpar ou desvirtuar os princípios europeus neste domínio.

Criámos também o Fórum Ibérico, para que Portugal e Espanha possam unir esforços em prol da resolução dos problemas e desafios que nos são comuns. A Ordem dos Médicos Dentistas pretende ainda posicionar a Medicina Dentária no chamado turismo de saúde e bem-estar, porque acreditamos que Portugal tem excelentes condições para ser um forte player neste campo. Queremos, portanto, assumir um papel regulador e contribuir para o estabelecimento de regras precisas e de orientações éticas, garantindo que os pacientes recebem informações claras sobre o turismo dentário e que os tratamentos serão realizados de forma adequada, por exemplo no que diz respeito às consultas necessárias, incluindo as consultas de pré-tratamento e de follow-up.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os colegas médicos dentistas portugueses e além-fronteiras?

A profissão é feita por todos! Cada um de nós pode contribuir para melhorar a profissão, tanto a nível micro, como macro. Ou seja, são tão importantes as escolhas que fazemos na nossa atividade diária, a forma como nos relacionamos com pacientes e parceiros, defendendo sempre o papel do médico dentista, como, a nível macro, as causas profissionais em que nos envolvemos e a participação em associações ou sociedades científicas.

Se as eleições fossem hoje, voltaria a candidatar-se a bastonário da OMD?

Nunca parei para pensar nisso (risos). O meu dia a dia está focado no meu plano de ação. Estou aqui para servir, ser inclusivo e tentar encontrar convergências. É a minha forma de estar. É um desafio grande, pois as solicitações na Ordem são muitas e tenho que conciliar o papel de bastonário com o trabalho clínico e com a vida pessoal... Mas não estou arrependido, disso tenho a certeza!

O que acha desta parceria da DentalPro com a Dental Tribune International?

É um ótimo sinal. Creio que nos devemos congratular com esta parceria. As democracias, sociedades e profissões precisam de jornalismo sério, credível, especializado e ambicioso. Nesse sentido, vejo com muito agrado a consolidação e a evolução da DentalPro, bem como o facto de não terem escolhido seguir pelo caminho mais fácil, mas pelo mais trabalhoso e ambicioso. O vosso contributo é importante para proporcionar momentos de reflexão sobre o trabalho que todos nós fazemos e os desafios com que a profissão se deparada, auxiliando a classe com informação rigorosa que lhe permita fazer as escolhas mais adequadas.

A entrevista a Miguel Pavão faz parte da edição nº. 1 da revista Dental Tribune Portugal.

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